Os Cavaleiros Templários e a
Arca da Aliança, parte 4 – Moises e Javé (Yahve)
De acordo com o Êxodo,
quando Moisés se ausentara para entrar em contato com Deus no Monte Sinai, seu
povo, temendo que algum mal pudesse cair sobre eles, pediu para seu representante
Aarão que fizesse imagens sagradas para protegê-los. De acordo com eles, Aarão
pegou jóias de ouro das pessoas e fez um “bezerro fundido”. Na verdade, ao
contrário da popular imagem de Hollywood, não foi um bezerro que eles fizeram,
mas foram muitos, quando outros passaram a seguir a idéia de Aarão. Aarão afirmou que esses
bezerros eram “teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito” (Ex 32:4).
Capítulo IV do livro: Os
Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, a descoberta do Tesouro do Rei
Salomão, de Graham Phillips, Editora Madras
http://grahamphillips.net/ (Thoth3126@gmail.com)
“E a arca da sua aliança foi
vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos e
grande saraiva”. Livro do Apocalipse
11:19
4. Moisés e Javé
Moises “abre” o Mar Vermelho. |
Antes que eu pudesse formar
uma opinião quanto ao fato de a Arca da Aliança ser ou não um artefato
histórico ou uma lenda fantástica, eu tinha que tentar responder duas últimas e
cruciais perguntas. Primeiro, será que Moisés, o homem que dizem ter inspirado
sua criação, de fato existiu?; e segundo, será que a religião hebraica, da qual
dizem que ela era a relíquia mais sagrada, de fato existiu no tempo que o Êxodo
parece ter ocorrido? Se a resposta a essas perguntas, principalmente a segunda,
fossem negativas, seria então pouco provável que a Arca fosse real. Ela não
teria tido nenhum propósito. Seria o mesmo que o Vaticano existir sem Jesus ou
a Igreja Cristã que ele fundou.
De acordo com a Bíblia,
Moisés foi o primeiro profeta a revelar as leis sagradas de Deus para a
religião hebraica enquanto os israelitas vagaram pelo deserto por quarenta anos
após sua fuga da prisão no Egito. Com isso, ele foi o fundador do que se tornou
o Judaísmo. A maioria dos arqueólogos e historiadores, porém, consideram Moisés
como o fundador imaginário de uma religião que se desenvolveu com o passar do
tempo. Eles não apenas duvidam de que Moisés foi uma figura histórica, mas
também questionam, com seriedade, se uma religião israelita organizada poderia
ter sido iniciada há tanto tempo assim. Eles estavam certos? Eu precisei
refletir sobre tudo que aprendera a respeito de Moisés.
De acordo com o livro do
Êxodo do Antigo Testamento, Moisés nasceu no
Egito em uma família de
escravos israelitas. Durante uma expurgação, quando o faraó ordenou a terrível
chacina de bebês israelitas, a mãe de Moisés salvou seu infante colocando-o em
uma pequena arca feita de papiros e escondendo-a nos juncos que crescem ao
longo da orla do Rio Nilo. A filha do faraó encontrou o bebê Moisés e,
simpatizante com o empenho dos israelitas, adotou-o como seu neto. De acordo
com Êxodo 2:14, Moisés chega a tornar-se um príncipe egípcio. A razão pela qual
muitos historiadores duvidam de que Moisés foi uma figura histórica se dá pelo
fato de acreditarem que uma pessoa da realeza deveria apresentar menções em
registros egípcios. Embora seja verdade que registros diários possam ter sido
destruídos, por estarem escritos em papiros, milhares de inscrições de
monumentos e tumbas ao longo de toda a
história do antigo Egito ainda existem para revelar os nomes dos reis e
príncipes egípcios. Entre eles, não há registro algum de um Moisés durante o reinado de Amenhotep III — ou
sequer de nenhum faraó egípcio de tempo
algum.
O nome Moisés, entretanto,
pode ser ilusório. Pode não ter sido o nome
verdadeiro do homem. As
traduções modernas do Antigo Testamento pegaram o nome Moisés da tradução grega
da Bíblia, onde aparece como Mosis. Esse, por sua vez, foi tirado dos livros do
Tanak dos hebreus, onde aparece em sua forma original como Mose. Êxodo 2:10 nos
diz que a filha do faraó decidiu chamá-lo assim “porque das águas o tenho
tirado.” Presumimos que o autor do Êxodo está se referindo à semelhança entre o
nome Mose e a palavra hebraica masa, que significa “arrancar.” Em 1906 o
historiador alemão Eduard Meyer afirmou que essa passagem foi inserida por um
posterior copiador do Antigo Testamento para dar uma origem hebraica ao que era
na verdade um nome egípcio.
O episódio, ele disse, não
faz sentido algum no contexto da narrativa como existe hoje. Se a princesa
desejasse manter a nacionalidade de Moisés em segredo da corte — o que ela deve
ter feito, visto que Moisés sobreviveu à ordem do faraó de matar os bebês
hebreus — ela não teria, então, dado a seu filho adotivo um nome hebraico. Um
contemporâneo de Meyer, o famoso egiptólogo inglês Flinders Petrie, indicou que
mose é uma palavra egípcia que significa “filho”. É um sufixo comum em muitos
nomes egípcios. É encontrado, por exemplo, no nome do faraó egípcio Ahmose, um
nome que quer dizer “filho da lua.”
Mapa do Antigo Egito
Em 1995, o historiador
israelense David Ullian especulou que Mose pode ter sido algo mais que apenas
um nome pessoal, assim como o termo Cristo — “o ungido” — mais tarde se tornou
o epíteto para Jesus. Ele sugeriu que o nome pode ter sido a abreviatura do
título “Filho de Deus”. Em tempos posteriores, os reis e os profetas de Judá
eram geralmente descritos como os “filhos de Deus”. É possível, então, se essa
personalidade de fato conduziu os israelitas à sua liberdade, que ele apareça
nos registros egípcios com um outro nome. Há alguém, usando qualquer outro
nome, no palácio real de Amenhotep III que se encaixe no perfil de Moisés?
Para início de conversa, é
muito pouco provável que estejamos de fato procurando por um israelita adotado.
A história toda das origens hebraicas de Moisés parece ter sido uma
interpolação posterior no relato do Êxodo de duas razões cruciais. Primeiro, a
história da arca de juncos parece ser tirada de uma lenda babilônica. Em Êxodo
2:3 lemos como a mãe de Moisés o esconde: Não podendo, porém, mais escondê-lo,
tomou uma arca de juncos, e a revestiu com barro e betume; e, pondo nela o
menino, a colocou nos juncos à margem do rio.
Rei Sargon I de Akkad
O autor islandês e
historiador literário Magnus Magnusson, em seu livro “BC: The Archaeology of
the Bible Land”, chama nossa atenção para um mito
mesopotâmico que fala do Rei
Sargon I de Akkad, datado de cerca de 2.350 a.C. Ali, o rei também é colocado
em um rio dentro de uma cesta de juncos quando sua mãe tenta escondê-lo. Como
Moisés, ele foi encontrado e adotado por outra pessoa:
“A mãe que me trocou me
concebeu, e em segredo deu à luz. Me colocou em uma cesta de juncos, com betume
fechou minha tampa. Me jogou ao rio que não me cobriu”.
Segundo, e ainda mais
importante, a história da adoção de Moisés fracassa a opor-se a um exame
histórico detalhado. O relato do Êxodo diz que a filha do faraó adotou Moisés e
que ele foi criado como um príncipe. No Egito antigo o sangue da família real
era estritamente controlado e manipulado. Os faraós eram considerados deuses, e suas filhas só podiam
conceber filhos com alguém da escolha do rei — quase sempre o próprio rei.
Adoções estavam totalmente fora de questão. É inimaginável que uma filha do
faraó tivesse a permissão de adotar um filho. Se Moisés realmente era um
príncipe no palácio real egípcio, como a Bíblia diz, ele, então, muito
provavelmente foi um egípcio nativo. Ainda mais interessante, há um príncipe
egípcio do reinado de Amenhotep que tem muita coisa em comum com Moisés — seu
nome era Príncipe Tuthmose.
Não se sabe muito a respeito
de Tuthmose, mas muitas inscrições egípcias sobreviveram para nos fornecer um
breve esboço de sua vida. Ele era o
filho mais velho de
Amenhotep e herdeiro do trono. Quando jovem, agiu como
governador de Memphis no
norte do Egito, antes de ser nomeado comandante das forças das bigas do rei e
presenciar muitos trabalhos contra os etíopes.
Após uma campanha militar
bem sucedida, ele voltou-se para a vida religiosa e foi escolhido o sacerdote
superior no Templo do deus Ra em Heliópolis, também no norte do Egito. No
vigésimo terceiro ano do reinado de Amenhotep ele, repentinamente, e por nenhuma
razão aparente, deixou seu cargo de sacerdote superior e desapareceu misteriosamente. Dois anos depois, quando o
reinado de Amenhotep terminou, foi seu irmão mais novo Akhenaton quem subiu ao
trono. O Príncipe Tuthmose se encaixa no perfil de Moisés de várias maneiras.
Primeiro, ele comandou o exército durante uma campanha etíope. O mesmo, parece,
aconteceu com Moisés. Embora a Bíblia não nos fale quase nada a respeito do
tempo de Moisés como um príncipe egípcio, o historiador judeu do século I,
Josephus, nos oferece um capítulo inteiro acerca de suas Antiguidades Judaicas.
Naquilo que parece ter sido a versão aceita dos acontecimentos há cerca de três
mil anos, ficamos sabendo que o faraó indicou Moisés para ser o comandante de
um exército que enviou para lutar contra os etíopes, e foi o sucesso nessa
investida que o levou para seu exílio. Com ciúmes da popularidade de Moisés
entre os soldados, o faraó decide ordenar sua prisão mas, avisado de antemão,
Moisés deixa o país.
O relato de Josephus parece
ter uma validade histórica ainda maior do que a narrativa bíblica com relação
ao motivo do exílio de Moisés. No Êxodo, lemos apenas que Moisés é forçado a
fugir do Egito após salvar a vida de um israelita, ao matar um cruel senhor de
escravos. Na realidade, um príncipe egípcio podia dar ordens para que um
administrador de escravos fosse executado quando e onde quisesse. Esse foi
provavelmente um outro episódio usado para fazer de Moisés um israelita. A
segunda semelhança entre Moisés e o Príncipe Tuthmose é que, por um tempo,
Tuthmose foi um sacerdote superior no Templo de Ra, em Heliópolis.
Parece que o mesmo aconteceu
com Moisés. De acordo com um relato encontrado por Josephus no trabalho de um
historiador egípcio chamado Manetho, que escreveu no século IV a.C, uma revolta
aconteceu entre os escravos semitas durante o reinado de Amonhotep III. Ainda
mais interessante, dizem que a revolta aconteceu em Avaris, o mesmo lugar onde
os israelitas parecem ter sido escravizados. De acordo com Manetho, Amenhotep
foi aconselhado por um de seus oficiais a livrar o país dos “indesejáveis” e
colocá-los para trabalhar em suas pedreiras de Avaris. Por muitos anos foram
forçados a trabalhar como escravos, quando passaram a ser liderados por um
sacerdote do templo do deus Ra em Heliópolis.
Evidentemente, o sacerdote
abandonara os deuses do Egito e fora condenado à prisão. Ele tinha sido no
passado, Manetho diz, um soldado, e durante seu cativeiro, treinou os
“indesejáveis” para lutar. Quando finalmente conduziu-os em uma rebelião,
milhares deles conseguiram fugir e voltar para sua terra natal. Os
“indesejáveis” não têm um nome, tampouco sua terra natal, e o sacerdote é
apenas chamado de Osarseph, que significa “líder”. Josephus, porém, não tinha
dúvidas de que os “indesejáveis” eram os israelitas e que Osarseph era Moisés.
Se Moisés era o sacerdote que aparece na obra de Manetho, então, Tuthmose,
obviamente, encaixa-se no perfil. Manetho nos diz que o sacerdote era um servo
no templo de Ra em Heliópolis antes de abandonar os deuses egípcios. Essa era a
exata função exercida pelo Príncipe Tuthmose antes de ele desaparecer.
A terceira semelhança entre
as duas figuras é que, assim como Moisés,
Tuthmose pode ter sido
mandado para o exílio. A razão para essa hipótese é que sua tumba jamais chegou
a ser ocupada. O explorador italiano Giovanni Belzoni descobriu a tumba de
Tuthmose no início do século XIX no Vale dos Reis do Egito, e a descoberta logo
fez surgir um outro enigma. Tumbas de reis eram preparadas enquanto seus donos
ainda estavam vivos; somente as decorações funerárias finais eram adicionadas
após a morte. Essa tumba, porém, estava pronta, mas as ilustrações comuns que
mostram o enterro e a mumificação de seu dono, não existiam. Isso significava
que a tumba estava vazia não porque tivesse sido roubada, mas porque jamais
chegara a ser usada. Mas, por que não?
É possível que Tuthmose tivesse mandado
preparar uma outra tumba, embora isso pareça pouco provável. As tumbas eram
caras, além de seus projetos demorarem anos para serem concluídos. Era comum
levarem anos para remover as centenas de metros quadrados de rocha sólida para
criar a sepultura e as câmaras dos tesouros em solo profundo. Somado ao seu
desaparecimento repentino e inexplicável do templo de Ra, e a falta de quaisquer
memoriais ou obituários, a tumba vazia indica que Tuthmose fora, de alguma
forma, desonrado e executado, ou enviado para o exílio. A única maior diferença
entre Tuthmose e Moisés são suas supostas idades. O Êxodo parece ter acontecido
no fim do reinado de Amenhotep, quando Tuthmose não teria mais que trinta e
cinco anos. De acordo com o relato do Êxodo, no entanto, foi muitos anos depois
do exílio de Moisés, que ele voltou para conduzir os israelitas à liberdade,
quando já teria oitenta anos de idade. E devemos ainda lembrar que precisamos
considerar as idades bíblicas com um certo cuidado.
Com freqüência, lemos a
respeito de pessoas que viveram mais de um século,
quando quarenta ou cinqüenta
anos era considerado um bom tempo de vida.
Se o Êxodo aconteceu durante
o reinado de Amenhotep III, o Príncipe
Tuthmose é o melhor
candidato de todos para ser o histórico Moisés. Seu passado corresponde com o
de Moisés de várias maneiras: Ele foi o comandante do exército na Etiópia, um
sacerdote no templo de Ra, e foi morto ou exilado. Até seu nome é intrigante:
Tuthmose quer dizer “filho de (do deus) Thoth.” Se Tuthmose tivesse abandonado
os antigos deuses e decidido tirar o divino Tuth — Thoth — de seu nome, ele
teria, na verdade, passado a se chamar Mose, a tradução original do nome de
Moisés. Embora nada disso sejam provas absolutas de que Tuthmose era o
histórico Moisés, ele, sem dúvida, se encaixa no perfil do homem e parece ter
vivido no lugar certo, no tempo certo. Fica, então, claro por que os antigos israelitas
podem ter precisado tramar uma história alternativa quanto às origens de
Moisés. Nacionalistas israelitas teriam achado muito difícil aceitar que seu
grande legislador, que estabeleceu a aliança com Deus e a guardou na Arca,
fosse, na realidade, um príncipe egípcio.
Evidências de que a religião
israelita já existia na mesma época do Êxodo
são ainda mais convincentes
do que as que ligam Moisés a Tuthmose. Indicações de que os escravos israelitas
já praticavam o monoteísmo — a religião de um só deus — durante o reinado de
Amenhotep III são encontradas, de forma indireta, em fontes egípcias. Parece
que idéias da religião dos hebreus influenciaram uma seita egípcia. Conhecida
como Atonismo (deus ATON), essa seita adorava a uma única divindade universal e
negava a existência de todos os outros deuses. A seita Atonismo parece ter
surgido muito rapidamente próximo ao fim do reinado de Amenhotep, e quando seu
filho, Akhenaton, subiu ao trono, por volta de 1360 a.C. O Atonismo tornara-se
tão influente que o novo faraó chegou a adotá-lo como a religião oficial do
Egito por um tempo. Suas práticas são tão parecidas com as da religião hebraica
que comentaristas bíblicos e egiptólogos vêem uma ligação entre elas. Algumas
pessoas chegaram inclusive a dizer que o Atonismo foi diretamente inspirado
pela religião dos escravos israelitas, de uma forma semelhante com a qual o
antigo Cristianismo inspirou a religião da Roma Imperial.
A correlação entre as duas
religiões parece muito grande para ser apenas
uma coincidência. Com
exceção do fato de que ambas acreditam em um único deus universal e negam a
existência de todos os outros — um conceito desconhecido em todas as demais
partes do mundo na época — elas ainda compartilham de uma série de outros temas
especiais. Primeiro, ambas veneram um deus sem nome que é apenas referido
através de títulos. Jeová, o nome de Deus conhecido pelos cristãos de hoje, é
na verdade, uma tradução do grego do nome hebraico (Yhuv ou Yahweh
(Javé-Jeová), que na realidade, quer dizer “o Senhor”. O Deus de Israel não tem
um nome. Tampouco o deus dos Atonismo. Independentemente da reverência, no
Egito, os deuses eram geralmente chamados de forma direta e por meio de seu
nome. Na verdade, imaginava-se que o nome do deus invocava sua presença.
{n.T. – Jeová é uma
representação aportuguesada, com perda sintática da letra h (i.e., pois advém
de Jehová), do hebraico יְהֹוָה, uma vocalização do Tetragrammaton
(“Tetragrama”) יהוה (YHWH), o nome próprio do Deus de Israel na Torah hebraica.
O nome יְהֹוָה (YeHoVaH)
aparece cerca de 7 Mil vezes no texto original das Escrituras Hebraicas, além
das 305 ocorrências da forma יֱהֹוִה (YeHoViH). O texto em latim mais antigo a
utilizar uma vocalização semelhante a ‘Jeová’ data do século XIII.}
O Tetragramm ATON, as quatro
letras do nome divino.
Entretanto, o deus dos
Atonismo foi uma exceção única. O nome comum usado por egiptólogos para o deus
Atonismo é “o Aton”(às vezes como Aten) No entanto, esse não era de fato o nome
do deus, mas o nome do hieróglifo, ou símbolo, que o representava.
Uma transliteração direta da
palavra Aton é “o que dá a vida“(LUZ). Aton não era o nome da divindade dos
Atonismo; era apenas uma descrição. Seus outros títulos e formas de ser chamado
são, na verdade, idênticos aos usados para o deus dos hebreus. Isso foi
revelado por meio de uma descoberta acidental feita em Tebas (Luxor), a antiga
capital no sul do Egito.
Nos primeiros anos de seu
reinado, Akhenaton ergueu um novo templo
para o deus Aton na cidade
de Karnak, em Tebas. No entanto, pouco depois de seu reinado, quando o Egito
abandonou o Atonismo e voltou a usar seu panteão de deuses tradicionais, o
templo foi demolido. Por acaso, muitos dos blocos esculpidos que decoravam o
templo foram preservados dentro de duas gigantescas torres fechadas por
portões, que haviam sido erguidas em frente ao templo próximo do deus Amun
(Amon). Por volta de 1930, quando essas torres foram desmanteladas para
reformas estruturais, mais de 40.000 desses blocos esculpidos foram encontrados
em seu interior, tendo sido usados como aterro por mais de três mil anos.
Agora chamado de talatat de
Karnak, de um trabalho árabe que significa obra de tijolos, muitos deles estão
gravados com orações Atonistas (dedicadas a Aton) que apresentam semelhanças
inacreditáveis com os textos hebraicos. No relato bíblico, Moisés fala com
Deus, pela primeira vez, no Monte Sinai quando Ele aparece em um arbusto que,
de maneira miraculosa, arde em chamas sem consumi-lo. Sem saber qual deus está
falando, Moisés pede a Deus que revele seu nome, e Deus responde: “Eu sou o que
sou“ (Ex 3:14). Ele era apenas Deus — o único Deus.
A palavra hebraica para
“deus” era El. Ela tinha diversas formas, como por exemplo, Elyon, “o deus mais
superior”, e Elohim, “deuses”, ou El Shaddai, “deus Todo- Poderoso”. A palavra
Yahweh, “o Senhor,” é usada com freqüência, como em Yahweh-tsidkenu, o “Senhor
das Multidões,” (A palavra hebraica tsidkenu, que traduções modernas apresentam
como “multidões”, na verdade se refere a exércitos, como por exemplo os
exércitos de Judá, os exércitos de Israel, ou os exércitos de anjos.) No
entanto, pelo fato de os israelitas considerarem Yahweh (Javé), pessoal demais,
a palavra Adonai — “meu Senhor” — foi substituída na oração.
Nas inscrições do talatat,
encontramos o deus Aton sendo chamado de uma
forma quase idêntica. Uma
referência bastante recordativa do “Eu sou o que sou” no episódio do arbusto em
chamas: “Sois o que és, radiante e soberano sobre todas as terras”. Outros se
referem ao Aton, exatamente da forma como a Bíblia o faz repetidas vezes para
com Deus, como Deus Todo Poderoso e o Deus Soberano. Por exemplo: O grande
Aton, deus todo poderoso, que provém o homem com seu alimento e “Ó grande Aton,
deus soberano, que nos livra da escuridão”. O Aton é ainda citado como o senhor
dos exércitos, assim como o deus de Israel é chamado de o Senhor das Multidões:
“Vós que sois Senhor de todos os exércitos do mundo.” Com ainda mais
freqüência, porém, o Aton é chamado de forma semelhante à forma como Deus é
chamado de Adonai, usando a palavra Neb, a palavra egípcia para “Senhor”.
Esses nomes não são apenas
parecidos, mas também devemos observar
a forma como as duas
religiões recebem suas divindades. Uma oração longa feita para o Aton sobrevive
em uma série de inscrições na cidade em ruínas de Tell-el-Amarna (n.T.a antiga
capital de Akhenaton, a cidade de Akhetaton-O Horizonte de Aton), na região
central do Egito. Conhecida como “O Hino a Aton“, foi vista pelo egiptólogo
americano James Henry Breasted, no início de 1909, apresentando uma incrível
semelhança com o Salmo 104 no Antigo Testamento.
{“Nota: O Hino a ATON:
Tu és belíssimo sobre o
horizonte, Ó radioso Aton, fonte de Vida!
Quando te ergues no oriente
do céu, teu esplendor abraça todas as terras.
Tu és belo, tu és grande,
radiante és tu.
Teus raios envolvem todas as
terras que criaste,
Todas as terras se unem
pelos raios de teu amor.
Tão longe estás, mas seus
raios tocam o chão;
Tão alto estás, mas teus pés
se movem sobre o pó.
Tu és vida, por ti é que
vivemos,
Os olhos voltados para tua
glória, até a hora em que, imenso, te recolhes…
Criaste as estações para
renascer todas as tuas obras.
Criaste o distante céu, para
nele ascender.
A Terra está nas tuas mãos,
como aos homens criaste.
Se tu nasceres eles vivem,
se te pões eles morrem. Tu és propriamente a duração da vida, e vive-se
unicamente através de ti!”}
Ambas as orações
descrevem em termos idênticos como Deus
e o Aton são respectivamente vistos como criadores, alimentadores e
responsáveis por todos os fenômenos na Terra.Uma outra correlação especial
entre o Deus de Israel e o Aton é que nenhuma divindade tinha permissão de ser
representada por imagens. De acordo com a Bíblia, embora os antigos israelitas
tenham construído ícones que representavam os aspectos do poder de Deus, a
religião israelita proscrevia a produção de efígies do próprio Deus. No Egito,
uma efígie ou estátua de um deus era, tradicionalmente, uma parte essencial da
prática dos rituais.
Os egípcios acreditavam que
as divindades, na realidade, habitavam nessas imagens e suas construções
ficaram descritas em textos antigos. Em todo o Egito, somente o Atonismo se
divergia dessa prática. Os Atonistas proibiam a produção de quaisquer ídolos e
efígies do Aton. De acordo com um dos talatats, “Nenhuma forma em toda a Terra
deverá refletir vossa glória”.
Menorah, o candelabro
sagrado de sete (representando os Chakras) velas, para representar a luz e a
presença de Deus no templo (o corpo humano, o “templo” que Deus habita).
Ambas as religiões conseguiram
superar os problemas que essa doutrina
criou ao usar um símbolo
para representar a presença da divindade. Quando finalmente se estabeleceram em Canaã, os
israelitas usavam o Menorah, um candelabro sagrado de sete velas, para
representar a luz e a presença de Deus no templo. A prática ainda sobrevive nas sinagogas e nos
lares dos judeus da atualidade. Conforme mencionado anteriormente, os atonistas
também usavam um símbolo de luz para representar o Aton. Era um hieróglifo: um
disco com braços que se estendia para baixo chegando às mãos que seguravam um
ankh, o símbolo da vida.
Ele na verdade mostrava o
sol com seus raios trazendo luz como fonte de vida para a Terra. Antigos
egiptólogos chegaram à conclusão de que isso provava a adoração do sol. No entanto,
conforme outras descobertas arqueológicas eram feitas durante o século XX,
ficou claro que o hieróglifo representava a luz (“invisível”) do sol e não
o sol em si. (O sol era na verdade
retratado como um disco com asas.) O Atonismo proibia a representação de seu
deus de qualquer forma. Fica claro nos dias de hoje que o brilho do sol — que
traz calor, luz e vida, e que contudo, não pode ser propriamente visto — era a
forma por meio da qual a seita transmitia a idéia de um deus invisível,
onipresente e provedor.
Um símbolo do poder de ATON,
o disco solar como um símbolo de luz para representar ATON. Era um hieróglifo:
um disco com braços que se estendia para baixo chegando às mãos que seguravam
um Ankh, o símbolo da vida que representa o espírito doador e imanente da vida
doada pelos raios invisíveis do sol.
A única exceção que os
atenistas faziam quanto à proibição contra a produção de imagens é exatamente a
mesma exceção que os antigos israelitas parecem ter estabelecido: a imagem de
um touro sagrado. Mesmo depois de Akhenaton abandonar todas as divindades
tradicionais e tudo o que estava associado a elas, deu instruções específicas
para que o touro de Mnevis, um animal sagrado ao deus sol Ra, fosse trazido
para sua nova capital em Akhetaton (Tell-el-Amarna) e que fosse enterrado em
uma tumba especial nas montanhas da região. O touro de Mnevis, ou Nemur, era um
animal vivo venerado no templo de Heliópolis que, quando morto, era enterrado
com grandes pompas e cerimônias, e substituído por um novo touro encontrado na
floresta, de acordo com presságios recebidos. Uma série de figuras, do tamanho
de uma mão, desses touros, feitas em pedras e em bronze, foram descobertas nas
ruínas de Tell-el-Amarna-Akhetaton. Os antigos israelitas também continuaram a
venerar um touro sagrado, para a perturbação de Moisés, como pode ser visto na
história bíblica do bezerro de ouro.
De acordo com o Êxodo,
quando Moisés se ausentara para entrar em contato com Deus no Monte Sinai, seu
povo, temendo que algum mal pudesse cair sobre eles, pediu para seu
representante Aarão que fizesse imagens sagradas para protegê-los. De acordo
com eles, Aarão pegou jóias de ouro das pessoas e fez um “bezerro fundido”. Na
verdade, ao contrário da popular imagem de Hollywood, não foi um bezerro que
eles fizeram, mas muitos, quando outros passaram a seguir a idéia de Aarão. Aarão afirmou que esses
bezerros eram “teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito” (Ex 32:4).
Além disso, eles, tampouco, parecem ter sido representações de tamanho real.
Não sabemos qual era seu tamanho exato, mas a inferência é de que, como as
efígies do touro dos egípcios, são pequenos o suficiente para caber na palma de
uma mão. Quando as pessoas deram a Aarão seu ouro para que ele fizesse o ídolo,
“E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril” (Ex 32:4).
O “BEZERRO DE OURO” hoje é adorado no maior centro (controlado por banqueiros judeus) financeiro do mundo, em Wall Street, onde se encontra a bolsa de valores de Nova Iorque e onde existe a estátua de um touro – o charging bull, também chamado touro de Wall Street, escultura realizada pelo artista siciliano Arturo Di Modica (1941) e colocada junto ao Bowling Green Park, nas proximidades da bolsa de Nova York, em Wall Street.
Moisés pode ter sido contra
a prática da adoração do touro, mas parece
que ela ainda durou mais
oito séculos (n.T. ou até os dias de hoje, pois a figura do Touro representa o
mundo material, da forma humana e suas sensações). O livro de Jeremias do
Antigo Testamento trata de acontecimentos que se desenrolaram imediatamente
antes da invasão babilônica de Judá em 597 a.C, e nele há referências a doze
estátuas de touro de bronze, na verdade, enfeitando o templo de Jerusalém. De
acordo com Jeremias 52:20, quando os babilônios saquearam o Templo, fugiram com
os “doze bois de bronze” que ficavam na base dos pilares do Templo. No âmbito
lingüístico, o livro de Jeremias é datado de cerca de 550 a.C. — próximo o
suficiente do ataque ao Templo que não deixa dúvidas de que esse detalhe tenha sido
inventado. Se o próprio autor não tivesse testemunhado o acontecimento, muitas
pessoas, ainda vivas na época, o teriam. Não há muitas dúvidas, no entanto, de
que a veneração de efígies de touros ou bois foi uma parte da antiga religião
dos hebreus. Que os antigos israelitas veneravam esses ídolos é um fato também
sustentado por evidências arqueológicas. Uma série de efígies do tamanho de uma
mão foram encontradas em antigos locais por toda as cidades de Israel e na
Palestina.
Talvez a mais interessante
de todas seja a de um touro de bronze, com cerca de
vinte centímetros de
comprimento, encontrada no campo de Shechem (SICHEM), e hoje propriedade do
arqueólogo israelense Amihay Mazor, da Universidade Hebraica, em Jerusalém. Ela
é datada do século XX a.C, um tempo muito anterior ao período de Moisés e,
conseqüentemente, um tempo quando a fé dos hebreus foi totalmente estabelecida.
De acordo com o Antigo Testamento, Shechem era um dos lugares sagrados na
antiga Israel. O touro de bronze, vindo desse local tão respeitado, é uma óbvia
evidência da contínua veneração do touro, certamente por alguns israelitas,
muito tempo após terem invadido Canaã. De todas as centenas de práticas
religiosas que existiam no mundo, ambas as religiões, a Atenista e a Hebraica,
aparentemente, devem ter mantido um costume pagão antigo que é exatamente o
mesmo, e isso é mais do que uma simples coincidência.
Talvez a prova mais
convincente de que o Atenismo e a religião dos
israelitas estavam
relacionadas, tenha vindo com a surpreendente descoberta
arqueológica feita em 1989.
Naquele ano, o arqueólogo francês Alain Zivie descobriu uma tumba de pedra em
Sakkara, próximo ao Cairo. Inacreditavelmente, o homem enterrado na tumba era
um sacerdote tanto do Deus Aton, quanto do Deus dos hebreus. Inscrições
revelaram que a múmia fora um importante oficial egípcio do reinado de
Akhenaton, chamado Aper-el. Na verdade, ele era uma das figuras mais
importantes do governo de Akhenaton. Era um grande vizir, o ministro chefe do
norte do Egito. Surpreendentemente, o teste de DNA revelou que Aper-el não era
um nativo egípcio, mas sim um semita, o que, por si só, já teria sido algo
estranho o suficiente.
Ainda mais impressionante,
porém, ele parece ter sido um israelita. Seu nome, AperEl, Alain Zivie concluiu
com surpresa, parecia ser um título. Traduzido, ele literalmente significa
“Servidor de (do deus) El.” El, naturalmente, era a palavra hebraica para Deus.
Seu nome obviamente implicava que Aper-el foi um praticante fervoroso da
religião israelita durante o reinado de Akhenaton. A descoberta mais
instigante, porém, foi a das ilustrações da tumba que revelavam que Aper-el
também era o sacerdote superior do templo atenista na cidade de Memphis. Aqui
não apenas temos provas de uma ligação compartilhada entre a religião hebraica
e o Atenismo, mas também um exemplo de
alguém que parece ter sido um sacerdote de ambas as religiões que não via
nenhuma contradição. A única conclusão que pode ser tirada é a de que as
religiões dos israelitas e dos atenistas estavam muito intimamente relacionadas.
Temos somente os livros do
Antigo Testamento como prova da religião
dos hebreus no período do
ano de 1300 a.C. — livros que não foram escritos até muitos séculos depois.
Entretanto, o que se sabe do Atenismo está baseado em descobertas
contemporâneas. Isso não nos faz ter dúvidas de que uma religião, de muitas
maneiras idêntica à religião dos hebreus, existiu por um pequeno tempo no Egito
exatamente na mesma época em que Moisés parece ter vivido e que o Êxodo parece
ter acontecido. Na verdade, nenhum outro povo, em nenhuma parte do mundo, ficou
conhecido por ter estabelecido uma religião monoteísta antes, e não o faria —
com exceção dos israelitas — por outros mil anos. Parece pouco provável, portanto,
que as duas religiões não estivessem relacionadas. Se o Atenismo surgiu da
religião dos israelitas, ou se o contrário, jamais ficaremos sabendo. O que foi
muito importante para minhas pesquisas, foi que havia grandes evidências de que
a religião hebraica, de uma forma ou de outra, de fato existiu no tempo que
dizem que a Arca da Aliança foi construída. Havia, porém, não apenas provas de
fontes egípcias do antigo monoteísmo por volta da época que a história do Êxodo
aconteceu; havia também evidências de um recipiente sagrado quase idêntico à
Arca.
No Egito, acreditava-se que
a presença de um deus residia dentro de uma
imagem feita com detalhes,
geralmente uma estátua ou uma estatueta. Durante o reino de Amenhotep III, uma
estátua da principal divindade egípcia, Amun, ficava em um canto escuro de um
lugar sagrado no templo de Karnak. Assim como a câmara onde a Arca da Aliança
mais tarde ficou no Templo de Jerusalém, esse lugar sagrado era chamado de
Sagrado dos Sagrados (Sanctun Santorun). De alguma forma que hoje não
entendemos, acreditava-se que nesse local sagrado do templo a divindade (ou um
seu mensageiro) revelava suas instruções ao sacerdócio.
Somente em ocasiões
especiais a estátua era tirada de seu lugar, e era então
carregada em um recipiente
sagrado que, como a Arca, era feito de madeira
dourada e transportada com
varas inseridas em seus arcos de ambos os lados. Uma outra semelhança entre
esse recipiente sagrado e a Arca da Aliança, é seu nome. Uma inscrição em um
cenário que mostra a estátua do deus sendo carregada neste recipiente no relevo
de uma parede no templo de Medinet Habu em Tebas, diz: “O divino Amun é
transportado na Barca sagrada.”
As palavras arca e barca têm
uma origem comum na palavra Ak, um
termo egípcio que significa
um recipiente ou vaso sagrado. A palavra seguiu seu caminho até o latim onde se
transformou em barca, um barco real. Com o tempo, essa palavra romana ganhou um
uso comum como a palavra usada para qualquer barco pequeno; no inglês moderno a
palavra é barge, que também significa barca. A palavra original Ak, porém, não
apenas se referia a um objeto inanimado; ela também podia ser aplicada a uma
pessoa por intermédio da qual deus falava, como no título do faraó egípcio
Akhenaton que significava “vaso de Aton.”(como Jesus foi o “VASO” do Cristo)
Portanto, a palavra egípcia Barca e a hebraica Arca eram ambas recipientes que
guardavam seus respectivos deuses ou algo que canalizava o poder das
divindades.
práticas religiosas no
Egito, porque foi ali que os israelitas viveram por cerca de quatrocentos anos
antes do Êxodo. Embora nenhuma de minhas investigações de fato prove que a Arca
da Aliança existiu, elas, sem dúvida, colocam a relíquia bíblica dentro de um
contexto histórico realista. Como um povo forçado a levar uma existência nômade
no Deserto de Sinai por muitos anos após sua fuga do Egito, é perfeitamente
compreensível que os israelitas tenham criado a sua própria versão de uma barca
egípcia. Isso fazia com que pudessem transportar suas posses mais sagradas, em
particular o enigmático item por meio do qual dizem que Deus se manifestava —
ou seja, o misterioso propiciatório, ou trono de Deus.
Assim como a estátua egípcia
do principal deus Amun, o propiciatório de
alguma forma revelava as
instruções de Deus. O termo propiciatório é uma tradução do inglês da palavra
mercy seat que tem origem hebraica nas palavras kiseh chesed, sendo que a
palavra que significa mercy, chesed, também quer dizer sabedoria, e a palavra que
significa seat, kiseh, também quer dizer um lugar de julgamento, como o
“assento” de poder de um rei. Em 1 Crônicas 28:11, a sala do trono do Rei
Salomão também é mencionada pelo termo propiciatório. Parece, portanto, que não
se tratava necessariamente de uma cadeira, mas um lugar de onde a sabedoria era
distribuída, julgamentos feitos e o poder exercido. A palavra equivalente do
inglês mais próxima é na verdade oracle (oráculo). Como a tradição dos hebreus
proibia a criação de imagens de Deus, este oráculo provavelmente não era uma
estátua ou uma estatueta. O livro do Êxodo nos dá a única descrição do
propiciatório: “Fez também o propiciatório de ouro puro; o seu comprimento era
de dois covados e meio, e a sua largura de um covado e meio” (Ex 37:6)
Essas informações não são
suficientes, mas ao julgarmos pelo fato de
que as dimensões dadas são
as mesmas da Arca, parece que essa era a sua
tampa. Seja o que for, o
propiciatório era o oráculo de Deus, assim como a estátua de Amun era o oráculo
da principal divindade egípcia. Uma barca dourada portátil que transportava um
oráculo do deus egípcio, e uma arca dourada portátil que carregava um oráculo
do Deus dos hebreus — certamente uma deve ter inspirado a outra. Portanto,
havia evidências históricas de uma personalidade correspondente, ao perfil de
Moisés, havia provas arqueológicas da existência da religião dos hebreus e a
Arca se encaixava em um contexto histórico. Eu estava agora em posição de
iniciar uma investigação teórica a respeito de uma realidade histórica da
relíquia perdida.
Fim do capítulo. (Publicado
originalmente em Março de 2014)
Permitida a reprodução desde
que mantida a formatação original e mencione as fontes.
A Revelação Templária – 6C – A Herança dos Templários
CAPÍTULO VI – A HERANÇA DOS
TEMPLÁRIOS
Uma influência importante na
convenção do Lyons – e no subsequente esoterismo francês – foi o filósofo ocultista Louis Claude de
Saint-Martin (1743-1804). Embora pareça que ele
se dedicou ao celibato, a sua filosofia centra-se numa veneração do
Feminino, sob a forma de Sophia, que ele
considerava «a forma feminina do Grande Arquiteto». O «martinismo» foi a mais
influente filosofia ocultista, não só sobre estas formas de Maçonaria ocultista
mas também nas sociedades rosacruzes da França do século XIX, que serão discutidas pormenorizadamente no
próximo capítulo.
Edição e imagens: Thoth3126@gmail.com
Capítulo 06C – A HERANÇA DOS
TEMPLÁRIOS – Livro “The Templar
Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de Lynn Picknett e Clive Prince.
http://www.picknettprince.com/
CAPÍTULO VI – A HERANÇA DOS
TEMPLÁRIOS
Alguns anos após a reunião
de Lyons, em 1782, realizou-se outra grande conferência maçônica – desta vez com representantes de
todos os grupos maçônicos da Europa – em
Hessen, sob a presidência do duque de Brunswick; o seu objetivo era
sanar as profundas divisões no seio da
Maçonaria, resolvendo definitivamente a questão da relação entre a Maçonaria e os Cavaleiros Templários. O
resultado foi uma humilhação para o barão Von Hund, que defendeu a causa
templária e foi, efetivamente, o fim da
Estrita Observância Templária. No entanto, os Templários ganharam a guerra: a convenção concordou em
reconhecer o Rito Escocês Retificado –
que era exatamente a Estrita Observância Templária sob outro nome.
Também importantes na
Maçonaria ocultista são os sistemas conhecidos por «ritos egípcios», que irão assumir importância no
desenrolar da nossa investigação. Mas todos
eles derivam da dileta Estrita Observância Templária do barão Von Hund e
estão, por conseguinte, muito
intimamente relacionados com o Rito Escocês Retificado. Ao contrário da imagem habitual da Maçonaria, eles dão um
realce especial ao Feminino (algumas
formas incluem ativas lojas femininas). Todos os maçônicos veneram o misterioso
«filho da viúva». Nos ritos egípcios, a
«viúva» é ÍSIS.
ÍSIS, a deusa “negra“, o
princípio feminino da divindade, venerada pelos Templários, padroeira do Brasil
….
O Priorado de Sião, com a
sua reconhecida insistência em venerar ÍSIS, afirma que começou como um círculo interno da Ordem Templária e,
naturalmente, desenvolveu-se, ao longo dos
anos, e adquiriu outras associações esotéricas, algumas das quais são,
em si mesmas, muito significativas. Uma
forte influência parece ter sido Jacques-Étienne Marconis de Nègre (1795-1865), que fundou um dos ritos egípcios
da Maçonaria ocultista, em 1838, conhecido
por «Rito de Mênfis». Este rito também se afirmava descendente da
tradição «templarista» de Von Hund.
Marconis de Nègre esboçou um
complicado «mito da fundação» para a sua organização, fazendo a habitual afirmação pomposa de que o
rito remontava à antiguidade, a um grupo
chamado a Sociedade dos Irmãos Rosacruzes do Oriente. Esta, por sua vez,
fora fundada por um sacerdote da antiga
religião egípcia, que fora convertido ao cristianismo por S. Marcos e cujos discípulos incluíam membros dos
essênios.
O mito de Ormus sugere
quatro influências: rosacruz, egípcia, esoterismo judaico, como a cabala (certa ou erradamente, os essênios
eram considerados como tendo sido
cabalistas), e cristã, talvez de um gênero herético.
O que realmente nos
interessava neste mito era – como saberão os leitores de The Holy Blood and the Holy Grail – o fato de o
Priorado de Sião ter adotado o nome «Ormus»
como «subtítulo». E, viríamos a saber, a história de Ormus surgiu, pela
primeira vez, em ligação com a Ordem da
Cruz Ouro e Rosa, quando, em 1770, ela se tornou uma Loja da Estrita Observância Templária. Mas, como
veremos, a história que inspirou este mito tinha implicações muito vastas
no que diz respeito a esta investigação.
Talvez não seja
surpreendente que existam sociedades que se declarem sucessoras oficiais dos Templários. A maioria delas (n.t. ou a
sua totalidade) pode ser facilmente ignorada, embora a Antiga Ordem Militar do
Templo de Jerusalém apresente argumentos
suficientemente convincentes para ser levada a sério. Atualmente, tem a
sede em Portugal, onde afirma dedicar-se
a obras de caridade e à investigação histórica, embora exista um grupo minoritário, que opera a
partir de uma localidade da Suíça, com o
sugestivo nome de Sion. Mas as suas origens – na sua forma ressurgida –
estavam em França.
A Antiga Ordem Militar do
Templo de Jerusalém foi fundada, em 1804, por um médico com o imponente nome de Bernard
Fabré-Palaprat, que alegava ter recebido a sua
autoridade da Carta de Transmissão de Armênio, geralmente conhecida por
Carta de Armênio. Se fosse verdade,
contribuiria muito para determinar se Fabré-Palaprat era, na verdade, da verdadeira linha templária, porque
esta carta reivindicava ter sido escrita em
1324, por Marco Armênio, que fora nomeado grão-mestre pelo próprio
Jacques de Molay. Supostamente, o
pergaminho apresenta as assinaturas de todos os subsequentes grão-mestres da
Ordem dos Cavaleiros Templários, o que é significativo, porque, após a execução
de Jacques de Molay, supunha-se que não
existia mais nenhum grão-mestre.
Como era de prever, os
historiadores rejeitaram a carta como sendo uma falsificação. Mesmo autores de espírito aberto, como
Baigent e Leigh, concordaram que ela era uma
mistificação. Mas os críticos nunca a viram, de fato, e basearam as suas
objecções numa tradução do latim
original, datada do século XIX. (O documento está escrito em latim, que foi transcrito num código baseado
na geometria da cruz templária). Uma das
razões por que a carta foi declarada uma falsificação é que o latim é
demasiado bom para a sua época – o latim
medieval é notoriamente irregular -, mas, neste caso, o tradutor corrigira a
gramática. Os críticos também rejeitaram a lista das declarações de
grão-mestres porque a formulação das palavras de cada uma delas é a mesma – uma
coisa improvável, durante o espaço de
tempo entre 1324 e 1804. Mas isso também se pode dever ao fato de o copista as ter uniformizado: no
original, elas eram diferentes. Assim, as duas
razões principais para rejeitar a Carta de Marco Armênio não são, de fato,
válidas.
Outra razão por que a carta
tem sido criticada é pelo fato de conter censuras contra «os desertores Templários escoceses», os quais,
declara Armênio, deviam ser
«excomungados» (juntamente com os Cavaleiros Hospitalários). Assumindo
que estes cismáticos eram maçônicos da
Estrita Observância Templária de Von Hund, os
historiadores consideraram isso uma prova de que a carta era uma fraude
– porque eles pensavam que o barão
inventara a «Transmissão Escocesa» por volta 1750. Mas, se ele estiver dizendo
a verdade sobre as origens dos maçônicos, emerge um quadro radicalmente
diferente.
De fato, a Antiga Ordem
Militar do Templo afirma que a carta já existia, pelo menos cem anos antes de Fabré-Palaprat a ter tornado
pública, quando Filipe, duque de Orleãs – mais
tarde regente da França – a usou como texto para convocar uma assembléia
de membros do Templo em Versalhes. Se é
verdade, então este acontecimento é, em si mesmo, a prova da continuidade da presença templária na Europa.
(Foi o mesmo duque de Orleãs que admitiu
o Cavaleiro Ramsey na Ordem de S. Lázaro.)
Além da Carta de Armênio,
Fabré-Palaprat possuia outro documento importante – que também foi rejeitado imediatamente pela
maioria dos comentadores. Era o Levitikon – uma
versão do Evangelho do Apóstolo João, com flagrantes implicações
gnósticas -, que Palaprat afirma ter
encontrado num quiosque de livros em segunda mão. Mais uma vez, isto parece
ser demasiado simples, mas, se o
documento for autêntico, ele lança uma luz sobre as verdadeiras razões para conservar secreta
grande parte do conhecimento gnóstico. Porque o
Levitikon, uma versão do Evangelho de S. João, que alguns críticos datam
do século XI, conta uma história muito diferente da que se encontra no livro
habitual do Novo Testamento, com o mesmo nome.
Fabré-Palaprat usou o
Levitikon como base para fundar a sua Igreja Joanina Neotemplarista de Paris, em 1828, na qual os seus adeptos
foram devidamente iniciados, e após a sua
morte, dez anos mais tarde, sucedeu-lhe Sir William Sidney Smith, membro
da alta hierarquia maçônica e herói das
Guerras Napoleônicas.
O Levitikon, que fora
traduzido de latim para grego, era formado por duas partes. A primeira contém doutrinas religiosas que se
destinam aos iniciados, incluindo rituais
relativos aos nove graus da Ordem Templária. Descreve a «Igreja de João»
dos Templários e explica o fato de se
intitularem «joaninos» ou «cristãos originais».
A segunda parte é igual ao
Evangelho oficial de João, exceto em algumas omissões significativas. Faltam os capítulos 20 e 21,
os dois últimos do Evangelho. Também elimina
todas as sugestões de milagre das histórias da transformação da água em
vinho, do pão e dos peixes e da
ressurreição de Lázaro. São excluídas certas referências a S. Pedro, incluindo a história de Jesus declarar «sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja».
Se isto causa perplexidade,
o Levitikon também contém material surpreendente, mesmo chocante: Jesus é apresentado como tendo sido
iniciado nos mistérios de Osíris, o grande
deus egípcio da sua época.
Osíris era consorte da sua
irmã, a bela deusa ÍSIS, que dominava o amor, a cura e a magia – entre muitos
outros atributos. (Embora, atualmente, nos possa parecer desagradável esta relação incestuosa,
ela fazia parte da tradição faraônica e teria
parecido perfeitamente normal a qualquer crente do antigo Egito.) Set, o
irmão de ambos, desejava ÍSIS e planejou
matar Osíris. Este foi surpreendido pelos sequazes de Set, que desmembraram o seu corpo e espalharam os seus
restos mortais. Terrivelmente desolada,
ÍSIS vagueou pelo mundo, procurando-os, sendo ajudada na sua busca pela
deusa Néftis, mulher de Set, que desaprovou
este crime.
OLHO esquerdo de HÓRUS,
SÍMBOLO da escola iniciática do feminino sagrado…
As duas deusas encontraram
todos os restos do corpo de Osíris,
exceto o falo. Reconstituindo-os, ÍSIS usou um falo artificial com o que
“magicamente” concebeu o seu filho, Hórus. Em algumas versões desta história,
ÍSIS teve uma aventura amorosa com Set,
embora os motivos de ÍSIS pareçam obscuros – parece haver um elemento de vingança implicado nesta relação.
Hórus, agora um jovem, ficou enfurecido
por esta união, que ele considerava uma traição à memória do seu pai,
Osíris, e travou um duelo com Set, que resultou na morte do último e deixou
Hórus apenas com um olho. Curou-se e o
Olho de Hórus transformou-se no talismã mágico favorito do Egito.
O Levitikon, além de fazer a
extraordinária afirmação de que Jesus era um iniciado do culto de Osíris, também declara que ele transmitiu
este conhecimento esotérico a João, «o Discípulo Amado». O Levitikon também
afirma que Paulo e os outros apóstolos podem ter fundado uma Igreja cristã, mas que o fizeram
sem nenhum conhecimento dos verdadeiros
ensinamentos de Jesus. Eles não faziam parte do círculo interno e Paulo
(Saulo) sequer conheceu Jesus. Segundo Fabré-Palaprat, foram esses ensinamentos
secretos, tal como foram revelados a João, o discípulo amado, que foram preservados pelos Templários, e que,
eventualmente, os influenciaram.
O Levitikon regista uma
tradição que, alegadamente, foi transmitida ao longo das gerações, acerca de uma seita, ou Igreja, de cristãos
joanitas do Oriente Médio. Estes afirmavam-se
herdeiros dos «ensinamentos secretos» e da verdadeira história de Jesus,
a quem eles se referiam como «Yeshu, o
Ungido». De fato, se esta seita existiu, a sua versão da história de Jesus é tão heterodoxa que não sabemos por
que razão se intitulavam «cristãos». Para
eles, não só Jesus era um iniciado de Osíris como era apenas um homem,
não o (ÚNICO) “filho” de Deus. Além
disso, era filho ilegítimo de Maria – não se punha a questão de miraculoso nascimento virginal. Atribuíam essas
afirmações a uma engenhosa – embora indigna –
história de fachada, inventada pelos evangelistas para obscurecer a
ilegitimidade de Jesus e o fato de sua
mãe não fazer nenhuma ideia da identidade do seu pai!
A seita joanina reconhecia
que o título de «Cristo» não era único e exclusivo de Jesus: o grego original
Christos apenas significava «o Ungido» – um termo que se podia se aplicar a
muitos outros, incluindo reis e oficiais romanos. Assim, os líderes joaninos sempre se intitulavam
«Cristo», (Curiosamente, o Evangelho de Filipe de Nag Hammadi aplica o termo «Cristo» a todos
os iniciados gnósticos.
O grupo era considerado uma
seita gnóstica, que preservou vários segredos esotéricos, incluindo os da cabala. Também conceberam um
plano para se transformarem numa
organização secreta, que seria (nas palavras do escritor do século XIX
Elias Levi) o único repositório dos grandes
segredos religiosos e sociais, elegeria reis e pontífices sem se expor à
corrupção do poder – isto é, uma organização secreta que não estaria sujeita
aos caprichos e às incertezas das
mudanças políticas e sociais no decurso dos anos. O seu instrumento seria a Ordem dos Cavaleiros
Templários, e Hugues de Payens e os restantes Cavaleiros fundadores foram, de
fato, iniciados joanitas.
Contudo, os próprios
Templários se tornaram corruptos, devido
ao seu amor pela riqueza e pelo poder, e foram
eventualmente extintos. O rei francês e o papa não podiam permitir que a
verdadeira natureza da ameaça templária
se tornasse conhecida publicamente; portanto, inventaram as acusações de
idolatria, heresia e imoralidade. Mas, antes da sua execução, Jacques de Molay,
segundo as palavras de Levi, «organizou
e instituiu a Maçonaria Ocultista».
Admitindo que é verdadeira,
só esta reivindicação altera dramaticamente a versão oficial da história. Apresenta o elo de ligação direta e
autorizada entre um tipo de Maçonaria e os
antigos Templários – e, assim, podia acontecer que estes mesmos maçônicos
pudessem ter alguma coisa a ensinar-nos
sobre o conhecimento templário.
OLHO direito de HÓRUS,
SÍMBOLO da escola iniciática do masculino sagrado…
Consultamos a edição
francesa original da obra de Levi e verificamos que Pike fizera certos aditamentos ou correções pessoais,
provavelmente baseado na sua própria compreensão desta tradição. Por exemplo, ele traduz a
frase histórica, acima citada, como «Maçonaria
Ocultista, Hermética ou Escocesa». Também corrige as palavras de Levi
relativamente a uma ligação entre os
Templários joaninos e os rosacruzes. Levi escreve (na fiel tradução de A. E. Waite):
Os sucessores dos
rosacruzes, modificando gradualmente os métodos austeros e hierárquicos dos
seus precursores da iniciação, tinham-se transformado numa seita mística e
adotado zelosamente as doutrinas mágicas dos
Templários, do que resultou eles considerarem-se os únicos depositários
[sic] dos segredos sugeridos pelo
Evangelho segundo S. João.
De forma notável, Pike
emenda as palavras em itálico para:
… Tinham-se associado com
muitos Templários, confundindo-se o dogma dos dois…
As alterações de Pike são
significativas porque, enquanto Levi era um observador e comentador do mundo
ocultista e maçônico e, até certo ponto, um leigo, Pike conhecia bem a questão. Achou adequado corrigir a versão
de Levi, de modo que, em vez de falar dos
rosacruzes adotarem as «doutrinas templárias», ele fá-los, de fato,
fundirem-se com os grupos templários
existentes.
Mas a correção mais significativa
de Pike é algo inteiramente novo. Depois da frase sobre o incitamento de Jacques de Molay à
«Maçonaria Ocultista, Hermética ou Escocesa», Pike acrescenta que esta ordem:
Adotou S. João Evangelista
como um dos seus patronos, associando-se a ele, para não despertar as suspeitas
de Roma aparentava venerar S. João Batista…
Isto é curioso, para dizer o
mínimo. Considerando que tanto João Evangelista como João Batista são santos católicos reconhecidos,
por que deveria a veneração de um deles ser
necessária como «cobertura» da veneração prestada ao outro? Contudo, não
é provável que Pike, o mais erudito dos
intelectuais maçônicos, tenha inserido esta informação na reprodução da passagens do livro de outro
autor sem uma boa razão. Evidentemente que
precisávamos investigar ainda mais este tema joanino, no seio da
tradição maçônica.
Como vimos, no último
capítulo, A. E. Waite referira-se a uma «tradição joanina» que influenciara as lendas do Graal e que, a
princípio, parecia mistificadora. Mas agora
começava a fazer sentido: era evidente que a «tradição joanina» era algo
relacionado com João Evangelista ou com
João Batista.
É claro que a história
subjacente não é nova para esta investigação. A «tradição joanina», com a sua clara ligação a S. João, também é
central para o Priorado de Sião – e, para eles,
como tínhamos discernido, é João Batista que é preeminente.
Como vimos no Capítulo II, o
Priorado afirma que Godefroi de Bouillon conheceu representantes de uma misteriosa «Igreja de
João» – por outras palavras, os Irmãos de
Ormus – e, em consequência desse encontro, decidiu formar um «governo
secreto». Os Cavaleiros Templários e o
Priorado de Sião foram criados como parte desse plano original. Nunca é demais
salientar que, pelo menos, segundo esta história, tanto o Priorado como os
Templários foram criados para dar forma
aos ideais desta misteriosa Igreja de João. À parte alguns detalhes menores, esta história é idêntica à
do Levitikon e, além disso, demonstra que o
moderno Priorado e os Templários fazem parte da mesma tradição.
O conceito dos Templários
como uma organização secreta, com autoridade para eleger e depor reis, é igual
ao dos Cavaleiros Templários do Graal de Parsifal de Wolfran Eschenbach – certamente que há provas de que
os Templários reivindicaram esse direito. O problema é que a maioria destas
exóticas reivindicações de uma longa linhagem
histórica data apenas das organizações neotemplárias do século XIX. Mas
elas podiam ser válidas, se pudessem ser corroboradas por provas independentes
que ligassem os seus movimentos a
organizações que já existiam definitivamente há séculos, como a ligação rosacruz – Maçonaria.
Outra dificuldade reside no
fato de serem feitas duas reivindicações diferentes: uma delas defende que certas formas de Maçonaria
descendem diretamente dos Templários. De
acordo com a outra, os próprios Templários são uma continuação de uma
tradição herética, mais antiga, que
remonta à época de Jesus. Infelizmente, provar a primeira não significa automaticamente que a segunda seja
verdadeira.
levitikon-1831-fabre-palaprat-templarios
Mas a importância atribuída
à versão idiossincrática do Evangelho de João é excitante, embora pareça haver alguma confusão entre
João Evangelista e João Batista. A afirmação
de Albert Pike, segundo a qual os maçônicos adotaram Batista como
cobertura para a sua veneração secreta
de João Evangelista, é, como vimos, absurda. Por que deveriam os maçônicos querer esconder a sua veneração de
qualquer dos santos, quando ambos são
perfeitamente aceitáveis para a Igreja? Tudo o que Pike conseguiu foi
chamar a atenção para os dois santos de
nome João e envolvê-los numa aura de mistério e intriga. Talvez fosse essa a sua REAL intenção. Noutra obra,
A. E. Waite cita textos maçônicos, relativos à Maçonaria joanina, que reclamam
uma ligação com um cristianismo joanino centrado em Batista e que o considera o «único verdadeiro
profeta».
Como já vimos, João Batista
era santo patrono dos Cavaleiros Templários e dos maçônicos. Na verdade, a Grande Loja de
Inglaterra foi fundada a 24 de Junho – Dia de João Batista. E no pavimento de
todos os templos maçônicos vêem-se duas linhas
paralelas: uma representa o bordão de João «Evangelista» (outra
designação de João, o Amado), enquanto a
outra linha representa o bordão de Batista. É evidente que os dois «João» são
de especial importância para a irmandade, embora seja o mais velho que tenha precedência. Além disso,
o juramento maçônico é prestado aos
«divinos santos João». Mas, atualmente, os maçónicos, como eles próprios
admitem, não sabem por que razão os dois
santos de nome João são tão venerados.
Talvez estas duas figuras bíblicas, ao longo dos anos, se
tenham confundido e que o termo «joanino», que se julga referir aos discípulos
do Amado(Cristo), também possa, de fato, se referir ao Batista. Mas se é o João mais velho ou o mais novo –
ou ambos – que é venerado pelos maçônicos,
há um nome que é conspícuo pela sua virtual ausência nas lojas
maçônicas: o nome de Jesus, de uma
maneira geral, não surge. Supõe-se que esta ausência é devido ao fato de
os maçónicos não serem essencialmente
uma organização cristã; é suficiente ser um teísta para aderir às suas fileiras. Mas, nesse caso, por
que devem tanta fidelidade aos santos cristãos
de nome João?
A ideia de que o Evangelho
de João encerra segredos arcanos(n.T.Para quem tem “olhos para ver”…), ou de
que existe uma outra versão dele,
recorre nesta investigação. Diz-se que os cátaros possuíam uma alternativa herética, e Sir Isaac Newton ficou obcecado
por ela. (Como escreve Graham Hancock: «[…]
apesar das suas firmes convicções religiosas, por vezes, parecia ter
considerado Jesus Cristo mais como um
homem especialmente dotado [… ] do que, propriamente, o (n.t. Único) Filho de
Deus.»
Assim, tanto os maçônicos do
Rito Escocês como os Templários da «Transmissão de Armênio» podem ter preservado os segredos
templários originais e ambos seguem o rastro dos Templários até à «seita
joanina». Embora não exista nada explicitamente joanino nos ritos egípcios da Maçonaria, todos estes sistemas
tiveram origem na Estrita Observância
Templária do Barão von Hund. E o Priorado de Sião associa-se a estes
três sistemas.
Como vimos, Pierre Plantard
de Saint-Clair descreveu o objetivo da Ordem do Templo como sendo «os guerreiros da Igreja de João e
os porta-bandeiras da primeira dinastia, as
armas que obedecem ao espírito de Sião».
O resultado deste grande
plano deveria ser «um renascimento espiritual» que «voltaria a Igreja católica
de Roma de cabeça para baixo». É evidente que isto não aconteceu – AINDA,
embora as nossas investigações mostrem que a revelação que podia provocar esta
modificação aguarda, nos bastidores, o
momento de fazer uma entrada dramática no cenário mundial, talvez sob a forma do Priorado ou das escolas de mistério
associadas, como as joaninas (n.T. ou com a revelação da VERDADEIRA história da
vida do homem conhecido como Jesus…).
Mas, seja como for, tínhamos
conseguido uma coisa muito extraordinária: tínhamos partido da aparente obsessão de Leonardo com João
Batista, seguíramos a ligeira sugestão de que
o Priorado de Sião, de algum modo, também estava implicado com aquele
santo.
Naquela fase, a implicação
não tinha grande significado, mas, à medida que seguimos as pistas dos Templários até os maçônicos, e
depois prosseguimos até aos grupos ocultistas, uma ligação muito mais convincente começou a
tomar forma ante os nossos olhos. A heresia
joanina existia, sob os diversos aspectos do mundo secreto ocultista – e
é a esta tradição que o Priorado declara
pertencer.
Embora muitas perguntas
importantes continuem sem resposta, um quadro coerente começava a emergir, um
quadro que, de algum modo, ligava João Batista a uma tradição que, de forma complexa, se mantinha oculta.
Mas isto era apenas uma parte do que emergia
como uma heresia composta por dois elementos, sendo o outro elemento
(n.T. e o PRINCIPAL) a veneração secreta
de uma deusa, a veneração do princípio feminino de Deus.
É evidente que este último
elemento é difícil de conciliar com as formas exteriores de organizações, como os maçônicos, que parecem
ter uma orientação excepcionalmente
masculina. Evidentemente que vale a pena possuir os segredos que estão
por detrás destes dois elementos – o
Feminino e os temas joaninos – porque eles têm sido defendidos, guardados e protegidos contra todas as
eventualidades e parecem ter atraído a particular hostilidade da Igreja de Roma. Isto não é
surpreendente, porque o segundo elemento destes
antigos segredos esotéricos – a veneração do princípio feminino –
revestiu a forma de magia pagã
transcendental, com todas as suas implicações do poder inerente do Feminino.
(Final do capítulo VI)
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