Ricardo Gondim (*)
Com licença, peço permissão para
me unir a mulheres e homens de boa vontade. Careço deles. Preciso ouvir a
sabedoria do alquimista que mistura conhecimento com humildade. Anseio andar na
companhia de quem borda alguma beleza em lenços encharcados de lágrimas.
Devo ouvir os repentistas,
aqueles que versejam o cotidiano. Quero descobrir como os poemas nascem. Desejo viajar com os melhores escritores por
mundos inexistentes. Me permito ansiar pelo ar dos menestréis, frequentar a
casa dos poetas e passear no corredor do museu lotado de pinturas. Quero o
desatino dos amantes, o destempero dos profetas, a danação dos sonhadores.
Será uma honra assistir ao
concílio dos generosos. Sonho presenciar uma assembléia de magnânimos. Me
disciplinar na virtude nunca será jugo. Na escola da modéstia, amarei a
discrição. Me comprometo vestir os adornos da cortesia até transformar a minha
fé em uma expressão da graça, o meu amor em uma encarnação do divino e a minha
esperança em um legado. Odiarei apenas o ódio. Abandonarei apenas o violento.
Aborrecerei apenas o aborrecível. Detestarei apenas o detestável. A fúria da
guerra, que tudo devora, será sempre minha inimiga.
Em minha sede, busco me alimentar
de beleza. Antecipo me vestir de cores. Aguardo me deslumbrar ao mesmo tempo
com simetrias e obliquidades. Aspiro me apaixonar, igualmente, pelo áspero e
pelo macio, pelo côncavo e pelo convexo, pelo regular e pelo deformado.
Necessito apreciar o sublime que os outros abandonaram. Me candidato a gostar
do que os insensíveis desprezaram.
A vida me chama. Minha vocação
não teme o duro chão da existência. Não devo permitir que falsificações de
qualquer espécie me paralisem. Tenho que dobrar a esquina do destino.
Obedecerei a voz que me chama à irrupção do novo. Não, não sei aonde chegará essa
avenida inédita. Prefiro arriscar. Inércia sugere morte. O meu tempo se chama
hoje.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim é escritor e
teólogo, presidente da Convenção Betesda Brasil.
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