Ricardo
Gondim
No
calor da Constituinte de 1988, o Jornal do Brasil publicou um longo texto com
denúncias gravíssimas sobre o comportamento da então incipiente bancada
evangélica. Religiosos estariam aliados à direita no chamado Centrão. Havia
indícios de que evangélicos estariam se vendendo por emissoras de rádio, cargos
para apadrinhados de pastores e por dinheiro. Segundo o jornal, os interesses
maiores do país ficavam em suspensão para que as igrejas ganhassem o direito de
“transmitir a Palavra de Deus”. Eles queriam, assim, salvar o Brasil. Naquela
época, pensei comigo mesmo: a aventura evangélica na política será um desastre,
uma tragédia.
Aquela
bancada era, relativamente, pequena; entretanto, a paranóia que justificava sua
existência, enorme. Corria, nas congregações, o boato de que a Igreja Católica
desejava mudar a Constituição para favorecê-la. Era, portanto, uma questão de
sobrevivência. Os crentes precisavam ter o maior número de políticos para fazer
frente à sanha do Vaticano de comandar o Brasil. Obviamente, tais rumores eram
falsos – tão fajutos como um relógio Rolex de 25 reais. Na avidez no poder,
nenhum pretexto é sórdido demais e nenhuma mentira, nefasta demais.
Depois,
o Brasil se viu dividido entre Collor e Lula. Já em 1989, pastores, bispos e
missionários passaram a identificar o nordestino sindicalista como o “sapo
barbudo comunista”. Edir Macedo não aliviou. Sua metáfora era peçonhenta: “O
diabo tem quatro dedos na mão e a língua presa”. Anos depois, já no governo
petista, o discurso do medo tornou-se menos negativo. Agora, para fermentar a
candidatura de evangélicos – na verdade, meninos e meninas de recado de
caciques denominacionais – propagandeava-se: “O Brasil precisa de homens e
mulheres convertidos e batizados. Os santos, em cargos importantes, salvarão a
pátria”. MAIS NO MENU ARTIGOS (CLIC)
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