Ricardo
Gondim
Trump
e Crivella vivem em universos diferentes. Não se conhecem e talvez jamais topem
um com o outro. Os dois, entretanto, guardam semelhanças incríveis. Ambos
representam lógicas estranhamente parecidas. Tanto o bilionário como o bispo se
viabilizaram na política com os votos de crentes do movimento evangélico.
Quais
as plataformas políticas do movimento evangélico? Antes, é preciso uma incursão
em sua teologia. Os setores mais visíveis do movimento, como o Southern Baptist
Convention, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil e a Igreja
Universal do Reino de Deus repetem, acriticamente, que o “mundo jaz no maligno”. Para eles, há
uma depravação generalizada. Vários inimigos precisam ser enfrentados para
“salvar” a humanidade: homossexualidade, aborto, casamento igualitário,
direitos da mulher, islamismo.
Outros
“pecadilhos” mal são mencionados: acúmulo de riqueza, glutonaria, ostentação,
ganância, desdém com o pobre, frieza com o imigrante. A missão de salvar almas
para o céu é mais importante, eternamente mais, do que lutar por um mundo onde
justiça e paz se beijem. A sanha dos evangélicos de se verem representados por
um campeão na política, não trará uma “teocracia inocente” (como se isso fosse
possível), mas acabará em fascismo.
As
eleições do Crivella e do Trump fortaleceram a minha convicção de que acertei
ao afirmar há alguns anos que me considero fora do movimento evangélico. Depois
de ler a parábola em que Jesus afirma que não se conserta pano velho com
remendo novo, estou convicto de que o evangelicalismo, como se organizou com a
Christianity Today, com a Moral Majority e com a Bancada evangélica, não tem
conserto. Qualquer esforço de tentar consertá-lo é enxugar gelo.
Não
faço parte do acampamento em que Franklin Graham, Silas Malafaia, Edir Macedo e
Jerry Falwell Junior fincaram suas tendas. Eu os considero estranhos à minha
forma de pensar. Concebo minha fé em outro dogma, paradigma, moldura ou
qualquer nome que se queira dar. Eles me tratam como heterodoxo, herege, e eu
os tenho como anomalias ao projeto de Jesus. Discordo veementemente de seus
contornos éticos.
Não
faço carreira solo. Por não aceitar que esses senhores sequestrem o termo
evangélico, pretendo ser evangélico no sentido de procurar me manter leal ao
caminho de Jesus. Não tenho pretensão de uma carreira solo. Dialogo com outros
pensadores, navego em outras águas políticas, sou de outro reino. 2016
representa o meu Isaías capítulo 6: “No ano da morte do rei Uzias eu vi o
Senhor…” Minha mínima associação com o movimento já estava morta, agora com
Crivella e Trump foi sepultada.
Soli
Deu Gloria
Ricardo
Gondim é escritor e teólogo,
presidente da Convenção Betesda
Brasil. E-mail: ricardogondin2@gmail.com
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